domingo, 14 de fevereiro de 2016

COMO O AMOR PODE SE TRANSFORMAR EM ÓDIO COM O FIM DA RELAÇÃO.

Do amor ao ódio

Regina Navarro Lins
Ilustração: Lumi Mae
Ilustração: Lumi Mae 
Comentando o “Se eu fosse você''
A questão da semana é o caso da internauta que depois de um ano de namoro recebeu mensagem do namorado terminando tudo. Ele já está com outra pessoa e ela com muita raiva e desejo de vingança.

O fim de uma relação amorosa é a desconstrução de alguma coisa real que, normalmente, foi acrescida de muitas ilusões. A parte que se retira da relação com outra pessoa, sem consenso, é o vilão.

Mas informar ao parceiro que ele não é mais o ser amado, que não se deseja mais dividir a vida como antes, é coisa difícil de fazer ao vivo. As novas tecnologias amenizam esse momento dramático e uma mensagem de celular aparentemente resolve a questão. 

Quando a pessoa se sente abandonada, com a autoestima abalada, a ideia de vingança pode surgir. Há um clássico grego que trata da questão: Medéia foi abandonada com os filhos por Jasão e não hesitou em assassiná-los, porque sabia que era a pior forma de atingir aquele que a abandonara.

O poeta grego Eurípedes escreveu Medeia, no século V a.C,. Usando o exemplo dela mostrou a situação das mulheres da sua época, pouco diferente da condição de escravas. Medeia renuncia a tudo para seguir Jasão. O sentido de sua vida é amá-lo, e isso ainda representa a situação de muitas mulheres. O “grande amor” é para elas o centro da existência e absorve grande parte de suas energias. 

A história de Medeia retrata o efeito destrutivo que a fixação no “grande amor” pode ter. “Uma mulher que vê, no seu relacionamento amoroso com o homem, um sentido exclusivo e um conteúdo da sua vida, acaba de mãos vazias quando o seu homem se dedica a uma outra ou se ela acredita não estar mais correspondendo aos ideais masculinos relativos à beleza e à atração sexual. Tendo investido todas as suas energias no relacionamento, ela agora se sente lograda.”, diz a escritora alemã Olga Rinne.

Voltando às formas atuais de dar um ponto final numa relação, a novidade, é o chamado ghosting. Algo como “agir como um fantasma”. Tem muito a ver com relacionamentos construídos pelas redes sociais. Se tudo começou e se manteve via mensagens de celular porque o fim não poderia ser dessa forma?
É o argumento que parece dominante no caso do ex da internauta, embora no caso dela o ex tenha informado o fim da relação. No chamado ghosting há um desaparecimento, uma ausência total de comunicação, como se tudo não tivesse passado de um caso fantasmagórico! 

A psicoterapeuta americana Elisabeth J. LaMotte, falando para a BBC, diz que informar sobre a separação é incômodo e “o evitamos em muitas esferas, particularmente no setor do amor. Para a pessoa vítima de ghosting, pode ser uma experiência muito dolorosa. A rejeição causa dor. E o ghosting é uma rejeição vaga que faz que o processo de dor do rompimento seja mais longo.'' 

Mulheres sofrem mais com o término de relacionamentos amorosos, embora se recuperem deles mais rapidamente do que homens, concluiu uma pesquisa britânica publicada na revista científica Evolutionary Behavioural Sciences. 

Os dados informam que as mulheres se envolvem mais emocionalmente e vivem o drama da separação até o fim. Os homens seriam menos preocupados e “seguiriam adiante”, mas também acumulariam mágoas inconscientes.

Penso ser importante refletirmos sobre o amor na nossa cultura, com os seus ghostings e toda virtualidade, que acompanha o dia a dia de homens e mulheres. Assim será possível criar novos códigos nas relações amorosas, com menos sofrimento desnecessário. 
FONTE:  http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2016/02/13/do-amor-ao-odio/